25.8.13

tudo quer se criar no poema:
o pássaro intermitente,
o relógio de pulso apertando
a tarde amarrotada
o quarto que aguarda

mas não aguarda o poema

o poema nunca é aguardado,
as coisas é que esperam
ser no poema

e o poema se vela
nos quarteirões que percorro
com o intuito de me perder
do alívio da possessão,
que percorro para esbarrar
na imensidão nascitura
das coisas rasas,
no rasante das coisas que ainda não sabem
de sua origem, que ainda não são
o próprio susto

o poema é uma mãe com dois filhos
ela ouve ao mesmo tempo o sono do mais novo, em seu ombro
e o balbucio do mais velho, que há tão pouco
também era sono e pesava sobre ela.
(quando ficou muito pesado
começou a falar e desceu
para que um seu irmão pudesse
também ser o sono)

dois irmãos e o poema.
um segura em sua mão
e o outro dorme em seu ombro
um balbucia enquanto o poema lhe guia
o outro cochila carregado, é a âncora
do poema.

o filho que balbucia acabará por esquecer sua pouca fala
e o que agora fecha os olhos e esquece mais adiante é o que falará
e assim um é o esquecimento do outro
mas só para que o outro possa acontecer

e a mãe é a porta inexplicável
para que aconteçam

para que fique do balbucio e do cochilo alguma coisa
tão poderosa
desse tempo recém saído da eternidade

a mãe é a amálgama do sono e do balbucio
da razão que começa a rebentar disforme
e do silêncio que ainda não precisa dizer
por que silenciar
ela prolonga e aniquila as duas coisas
porque as alimenta e é sua provisão


*

explicação dos irmãos:
há a mãe
e só ela é o poema.
as outras coisas todas competem
para se criar no amor.

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