18.12.12





quer dizer que você anda a pestanejar uma casa?

nunca, nunca poderia ter dito uma coisa dessas. mas comecei a dizê-la certo dezembro, quando adentrei uma resignação ensurdecedora

de que tipo de silêncio você fala?

não.

insisto.

sou de um silêncio vil. sirvo para amassar. casas se dão quando resolvemos que temos essa força. casas são arquivos são pústulas agigantadas, sorvedouros sem língua. pensando bem, uma casa não tem nada a ver com intentar uma casa.

que tipo de casa tem a ver com intentar?

qualquer uma que tenha uma clareira. mas uma clareira não basta. é preciso certa dissonância das luzes, para que se percebam as folhagens que não são dali.

você fala de um primor paisagistico?

conseguir o primor é a questão: é preciso entender todas as exigências do desmantelamento dos continentes.

mas uma resignação será sempre ensurdecedora? como fica?

ensurdecida.

você come muito?

quanto mais a especifico, quanto mais a tenho como a uma boca de estômago,  um silêncio possuido, tanto mais me enjoa comer.

te corrijo: despossuido. e como ficam seus hábitos alimentares? come batatas mofadas como um santo? baratas?

despossuido se você entender que a casa foi sempre minha, desde que me ordenei exerce-la. ainda hoje sei disso. como parece impossivel e gutural. não estou nem na metade. acho que respondi.


não, ainda falta

bem. me lambo como um gato. minha lingua tem cheiro de merda, nao meu pelo. minha lingua eu a dôo para esse sorvedouro que é a casa que ando a levantar.

e como ficam seus hábitos alimentares? você não respondeu.

como lá dentro mesmo da casa, enquanto a construo. ela fica lotada de ossos de galinha

há quanto tempo?

não sei. isso seria uma questão se não estivésemos falando sobre lidar com uma casa. qualquer outro levante mereceria uma resposta. há muitos gatos, é um o lugar comum. o que adiciona uma estranheza  são os ossos de galinha.

sua casa deve estar se parecendo com um campo de massacre. muitos gatos, muitas galinhas mortas.

um campo santo, de uma arqueologia ordinária. a mesma espécie sendo  coberta dias a fio, só as asas e as coxas. os gatos tem ido embora

como toda metáfora é desaparecida, desde que o crime se deu, ou se pensou dado

desde a narração do crime. a casa ainda não acabou. não consigo nem pensar direito nela.

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